Quem era Pipetto? É Pipetto, dizia, mas eram apenas, mais uma vez, meus lábios a recordar. Somente flatus vocis. Quem era Pipetto eu não sabia. Ou melhor, alguma coisa em mim sabia, só que essa coisa se enfurnava, sonsa, na região ferida de meu cérebro.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 178.
Tornara-me existencialmente, embora ironicamente, amargo, radicalmente cético, impermeável a qualquer ilusão.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 211.
E dizer que há loucos que bebem ou usam drogas para esquecer, ah, se eu pudesse esqueceria tudo, dizem. Só eu sei a verdade: esquecer é atroz. Existem drogas para recordar?

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 59.
  "Podem me chamar de... Ismael?"
  "Não, o senhor não se chama Ismael. Faça um esforço."
  Uma palavra. Como bater contra um muro. Dizer Euclides ou Ismael era fácil, como dizer ambará quiqui cocó três corujas no guarda-pó. Dizer quem eu era, ao contrário, era como virar para trás e lá estava o muro.

ECO, Umberto. A misteriosa chama da rainha Loana. Rio de Janeiro: Editora Record, 2005, p. 12.